sábado, 2 de junho de 2012

O "Boca do Inferno"


Lembrei-me hoje de aqui recordar um poeta maldito brasileiro, de seu nome Gregório de Matos, que viveu no séc. XVII, mas cuja obra continua de uma inegável actualidade...
Diz ele assim

Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.


...


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E neste soneto

A cada canto um grande conselheiro. 
que nos quer governar cabana, e vinha, 
não sabem governar sua cozinha, 
e podem governar o mundo inteiro. 
... ...


Finalmente

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: 
quem mais limpo se faz, tem mais carepa: 
com sua língua ao nobre o vil decepa: 
o velhaco maior sempre tem capa. 

Mostra o patife da nobreza o mapa: 
quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; 
quem menos falar pode, mais increpa: 
quem dinheiro tiver, pode ser Papa. 

A flor baixa se inculca por Tulipa; 
bengala hoje na mão, ontem garlopa: 
mais isento se mostra, o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa, 
e mais não digo, porque a Musa topa 
em apa, epa, ipa, opa, upa. 

Genial, não?
Upa! Upa!


2 comentários:

  1. Não é só atual. É intemporal... Não conhecia. Vou ter de investigar. Obrigada por ter dado a conhecer.

    Beijinhos, upa! upa!...

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  2. De nada.
    Já investigou? Estou mesmo daqui a ver que lhe agradou...
    Bjinhos

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