sábado, 14 de fevereiro de 2015

DAVID MOURÃO-FERREIRA



                       PRAIA DO PARAÍSO

Era a primeira vez que nus os nossos corpos
apesar da penumbra à vontade se olhavam

surpresos de saber que tinham tantos olhos
que podiam ser luz de tantos candelabros

Era a primeira vez      Cerrados os estores
só o rumor do mar permanecera em casa

E sabias a sal     E cheiravas a limos
que tivessem ouvido o canto das cigarras

Havia mais que céu no céu do teu sorriso
madrugada de tudo em tudo que sonhavas

Em teus braços tocar era tocar os ramos
que estremecem ao sol desde que o mundo é mundo

É preciso afinal chegar aos cinquenta anos
para se ver que aos vinte é que se teve tudo

                                         (in D. M.-F. ou a Mestria de Eros)




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