sábado, 31 de outubro de 2020

MELANCOLIA

 

I.P.


ABANDONADA

A velha casa, onde eu morei outrora

E que há muito está desabitada,

Silenciosa envolveu-me, ao ver-me agora,

Num triste olhar de amante abandonada.


Com que amargor no íntimo lhe chora

Uma alma sensitiva e ignorada,

Que não tem voz para queixar-se, embora

Se veja só, de todos olvidada!


Casa deserta e fria, que envelheces

Ao desamparo, sem uma afeição,

Bem sinto que me vês, que me conheces


E relembras os dias que lá vão…

Eu esqueci-te, amiga, e tu pareces

Toda magoada dessa ingratidão.


"... Pertencem a Almas Cativas alguns dos mais belos e expressivos poemas marítimos da poesia portuguesa. Neles, o peso opressivo da solidão concentra­-se na sugestão de um ambiente fechado, de céus cinzentos e pesados, que se estende ao poeta de uma forma calma e difusa. As casas ancestrais e as ruínas humanizam­-se, a noite, pelo seu «místico cismar», impõe um «terror sagrado» enquanto o luar transfigura a natureza, enfim, o poeta descobre a «alma de tudo a orar» e vê a sua sensibilidade exacerbada pelo pôr­-do­-sol, pelo vento agreste, por ruínas que se desenham em ambientes de decadência. ..." (ler+)

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