Miserere
Ai, povo português, que entre os mais povos
Foste heróico, e sublime, e egrégio outrora,
Quando entre o batalhar das raças fortes,
Da guerra entre o rugir das tempestades,
Peito a peito lutando, braço a braço,
O olhar em fogo e os lábios espumantes,
Erguias o estandarte vitorioso
Na negra dentadura das muralhas
E fazias flutuar as santas quinas
No espaço azul das glórias que não morrem.
Ai, povo português, povo maldito,
De sangue envenenado, que circula
Nas veias duma raça decadente,
Que de sonhos esplêndidos desperto,
Acordado no charco onde apodrece
A carne vil dos povos condenados,
Embalde tentas, num impotente esforço
Ser digno dos avós que te ilustraram
E que da escuridão da morte fitam
O duro olhar na tua decadência.
Ai, povo português, que choras, gemes
E soluças na dor que fibra a fibra
Convulsiona o teu ser abastardado .
Ao Céu erguendo os olhos rasos de água,
Imploras, desgraçado, o sangue novo,
A alma nova, que insuflada em estos
De arrojo e de bravura, revigore
Em ti o teu passado deslumbrante;
À força dos teus músculos de ferro,
A viva fé que enchia os olhos castos
Dos velhos Portugueses que lutaram
Sobre os oceanos e nos campos de batalha,
Onde com sangue e lágrimas teceram
Os versos de oiro, as rimas deslumbrantes
Das tuas epopeias imortais.
Ai, povo português, que Deus te salve
E, se puder, que os nossos peitos encha
Dessa luz, dessa fé consoladora,
Que as nuvens do futuro dissipando,
Entre de vez no mundo das estrelas…
Luz que ilumine as páginas da História
E vá com estrelas escrever os feitos,
Exaltar tantos rasgos de bravura,
Que entre os povos da terra o mundo espantam!
Raça de heróis, que Deus se compadeça
De ti e te resgate a Providência.
"Alberto de Monsaraz (Lisboa, 28 de Fevereiro de 1889 — Lisboa, 23 de Janeiro de 1959), o 2.º conde de Monsaraz, foi um político e poeta cultor do parnasianismo histórico. Militante monárquico, opôs-se activamente ao regime republicano, o que o forçou repetidamente ao exílio. Aderiu ao movimento do Integralismo Lusitano ..." (ler+)
D.L.21
D.L.51
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