segunda-feira, 28 de agosto de 2023

SÁ DE MIRANDA

D.L.22

D.L.26



Francisco de Sá de Miranda (Coimbra, 28 de Agosto de 1481 - Amares, 15 de Março de 1558), um dos maiores poetas da língua portuguesa, o eremita da Quinta da Tapada, o nosso primeiro Poeta-Cidadão, como lhe chamou Rodrigues Lapa, que dele disse: «Não há nele (Sá de Miranda), como nos demais humanistas horacianos, o desdém pelo povo, a aristocrática indiferença pelas suas dores. Há, sim, o desprezo por tudo quanto é reles e vulgar; ora para aquele homem justo, fervoroso pelo bem comum, o povo trabalhador e humilde não era uma coisa vil, antes pelo contrário, representava o verdadeiro sustentáculo da nação, que era preciso defender contra a prepotência dos grandes e contra os abusos do fisco».


A célebre quintilha, que bem retrata o poeta:

Homem dum só parecer,
Dum só rosto e dua fé,
D'antes quebrar que volver, 
Outra cousa pode ser ,
Mas de corte homem não é.


O soneto : O Sol é Grande

O sol é grande, caem co’a calma as aves,
Do tempo em tal sazão que sói ser fria;
Esta água, que d’alto cai, acordar-me-ia
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração qu’em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam d’amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
Também mudando-m’eu fiz doutras cores;
E tudo o mais renova: isto é sem cura.